na mesma situação de blake extras – 2002
pouco para insones
essa é uma promessa fosse outra heresia
sejam mais bonitos calam-se as correntes
passam tempestades saiam de sim
luz para quem arde paz de hemorragias
corram ou vão dormir
Nada de certeza essa é uma promessa
fosse outro presságio claro que inaudito
voz se queima a frase sorte em voo rasante
preço do ruído sábado despertem
nada é tão vazio como é ser tranqüilo?
pausa no exercício volta e meia frouxos
quase em movimento pouco para insones
tudo do começo voem pelo asfalto
essa é uma promessa sujos mesmo em falta
logo em pistas falsas
logo em propriedade
logo em agonia logo sem receio
sempre parecia sempre havia pressa
essa é uma mentira
nas fileiras: imundície
dos segredos: pichem muros
dos segredos: nada feito
nos segredos: como nunca?
nas paredes: pistas falsas
nos silêncios: malmequeres
dos prazeres: nada dito
dos dizeres: nada feito
comiserem-se as veredas
comiserem-se os tijolos
comiserem-se as fronteiras
os remorsos os remorsos
gravação registrada originalmente em disquete, restaurada e masterizada no haikal studio
música e letra marcelo gargaglione e luis maffei
marcelo gargaglione canto
luis maffei violão

umas ou outras peças
corpo.
a propósito uma taça de cristal
e réquiens.
passo.
trêfego em meio à franquia
de umas ou outras peças.
suavidade. ou staccato de um
apenas um acorde vocal.
depois a paisagem vista desde
um avião,
desde o corpo e as taças e uma dança
de precoce bailarina.
pescoço.
pote de vidro, óleo, luminosos pontos
à distância de um apelo
de uma pele
matriz.
gravação registrada originalmente em disquete, restaurada e masterizada no haikal studio
música e letra luis maffei e marcelo gargaglione
luis maffei violão e canto
marcelo gargaglione canto

el enamorado (adaptação do poema de jorge luis borges, desenvolvida por marcelo gargaglione e luis maffei)
lunas, marfiles, instrumentos, rosas,
lámparas y la línea de durero,
las nueve cifras y el cambiante cero,
debo fingir que existen esas cosas.
debo fingir que en el pasado fueron
persépolis y roma y que una arena
sutil midió la suerte de la almena
que los siglos de hierro deshicieron.
debo fingir las armas y la pira
de la epopeya y los pesados mares
que roen de la tierra los pilares.
debo fingir que hay otros. es mentira.
sólo tú eres. tú, mi desventura
y mi ventura, inagotable y pura.
luas, mármores, instrumentos, rosas,
lâmpadas e o dürer claro-escuro,
nove algarismos e o mutante zero,
devo fingir que existem essas coisas.
devo fingir que no passado foram
persépolis e roma e que uma areia
sutil marcou o azar de toda ameia
que as eras de ferro demoliram.
devo fingir as armas e a pira
de uma epopeia e os pesados mares
que roem da mãe terra seus pilares.
devo fingir que há outro. é mentira.
tu és o que existe. tu, minha má sorte
e minha sorte, inesgotável e agreste.
gravação registrada originalmente em disquete, restaurada e masterizada no haikal studio
música luis maffei e marcelo gargaglione
observação: adaptação do poema de jorge luis borges elaborada por luis maffei
luis maffei violão e canto
marcelo gargaglione canto

medula
suspeito que nada mais parece à tua mão,
medula,
que aparece em frontispício a cada nota,
num ditado de colégio em que se pautam orações.
resina de obscura densidade, de poeiras densidade e
sangue bravo, sol no rosto
parece que persegues nas paredes
uma alva impura e seca propriedade.
amo-te por nada que sabemos,
louvo a porcelana dos murmúrios,
quebrantados em sábados assim, sóis pouco suspeitos,
pouco vistos e mal-vindos.
logo eu que pouco sei de viço
logo tu que nada tens com isso,
logo nós que logo estamos certos
do parênteses aberto em tempestade
receio que nada mais percorre a tua mão,
medula,
gravação registrada originalmente em disquete, restaurada e masterizada no haikal studio
música e letra marcelo gargaglione e luis maffei
marcelo gargaglione canto
luis maffei violão e canto

rito ribeiro
serás meu rito ribeiro
agora que estou despido
dos sinais de civilização
agora que não tenho pressa
nem existência
justamente agora
que meu pulso pulsa
sem chumbo de sangue
agora que tenho pele
anoitecida
tecida em teus olhos
serás meu rito ribeiro
porque nada cessa, nada cede
nada é sede, tudo excede
algo é morto
reclama autópsia
estende-se em caligrafia bruta
exorta silêncios
serás meu rito ribeiro
não porque te amo
que de amor me canso
mas porque afinamos
no osso do avesso
gravação registrada originalmente em disquete, restaurada e masterizada no haikal studio
música luis maffei e marcelo gargaglione
poema alilderson cardoso de jesus
luis maffei violão
marcelo gargaglione canto

a mentira cifrada
não há mais alegria, valentine,
você soluça
nem interessa mais essa alegria ou a tristeza.
isto era um blues, valentine,
isto não era aflito
proveria de águas as cores dos outros
quereria e não pode manter-nos deitados
serenos
no ambiente suave dessas melancolias.
minha valentine, perdemos.
ah!, valentine, eu só queria algum sonho
queríamos todos a mentira cifrada,
eu que queria o repouso, eu que gosto da perfeição
mas meus lençóis só brilham se eu tomar veneno.
valentine, você é uma farsa
tua história, agora, não volta,
não deixam
sigo porque moro nisto
mas a ti, valentine, não mais sigo.
gravação registrada originalmente em disquete, restaurada e masterizada no haikal studio
música e letra marcelo gargaglione e luis maffei
marcelo gargaglione canto
luis maffei violão
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